terça-feira, 13 de outubro de 2009

A CIDADE E AS SERRAS X CAPITÃES DA AREIA


Saber ler uma lista de obras literárias é, também, saber perceber certas semelhanças entre elas.
Na obra A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, Jacinto toma consciência social ao visitar o alto de Montmarte, vendo Paris de cima. Quem o desperta para essa consciência é o narrador da obra, Zé Fernandes. Jacinto, até então defensor máximo da "suma ciência" e da "suma potência", não tinha a mínima consciência de que a cidade poderia ser uma ilusão, além de não saber que, para que pudesse gozar dos confortos da civilização, havia pessoas que se sacrificavam - os pobres trabalhadores. Sua alienação era tão grande que nem sequer havia pensado nisso. Porém, uma vez desperto para essa grande verdade, assume a responsabilidade de levar benfeitorias sociais para os campos de Tormes, melhorando a vida de muita gente e passando a ser visto como uma espécie de reencarnação de Dom Sebastião. Por onde passava, era reconhecido como o "pai dos pobres".

Trajetória semelhante percorre o herói de Capitães da Areia (Jorge Amado) - o menor abandonado Pedro Bala. Filho de um grande grevista que morrera em função de lutar por seus ideais, ele passa de menor abandonado a ícone da luta contra as injustiças sociais. É elevado à categoria de símbolo social no capítulo "Destino", conversando com João de Adão. Observe o trecho:

Numa mesa pediram cachaça. Houve um movimento de copos no balcão. Um velho então disse:
- Ninguém pode mudar o destino. É coisa feita lá em cima – apontava o céu.
Mas João de Adão falou de outra mesa:
Um dia a gente muda o destino dos pobres...
Pedro Bala levantou a cabeça, Professor ouviu sorridente. Mas João Grande e Boa-Vila pareciam apoiar as palavras do velho, que repetiu:
- Ninguém pode mudar, não. Está escrito lá em cima.
- Um dia a gente muda... – Disse Pedro Bala, e todos olharam para o menino.


E, de fato, tranforma-se num símbolo da luta contra a opressão e as injustiças sociais. Quem diria!!! Observem só o "parentesco" entre Jacinto e Pedro Bala.

Bons estudos!!!

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